segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

O Luto e as Datas Comemorativas

 
 
 
O LUTO E AS DATAS COMEMORATIVAS
 
 
 
 
 
 
"Uma benção receber amor. Mas quando a gente dói, a gente precisa saber formas de cuidar da própria dor, com o jeito carinhoso com que gostaríamos de ser cuidados pelos outros, com a delicadeza com que cuidamos de outras pessoas. A gente precisa se ter, antes de tudo. O beijo precisa começar em nós".  Ana Jácomo
 
 
  
Especialmente nas datas comemorativas de fim de ano, quando as famílias se confraternizam, se aproximam e trocam manifestações de carinho, fraternidade e amor é que as perdas de entes queridos mais tocam as pessoas em processo de luto. Saber e aceitar que não há mais como vivenciar estes momentos com um querido que morreu é tarefa das mais difíceis no processo de luto, porém é necessário que se passe por este período de Natal e Ano Novo em que os sentimentos e as emoções estão exaltadas, para que a nova realidade - a ausência do ente querido que morreu - seja  aceita e que se possa caminhar em busca de um novo olhar para a vida e para as pessoas que fazem parte da  história de cada um.
 
Buscar na vivência e no  íntimo de cada pessoa o conteúdo para lidar com a falta é essencial para que se estabeleça um novo olhar e um novo lugar para quem se foi. Refletir sobre esta fase do ano e sobre o processo de luto, espelhar-se no ente que partiu e até meditar são exercícios saudáveis e essenciais para a superação das dificuldades e renovação de valores.
 
Que neste Natal e  no Ano Novo cada um se tenha, se acarinhe em primeiro lugar e assim sinta cada pessoa que ama nesse toque especial, esteja ela próxima ou já tenha partido.
 
 
 


 
 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

domingo, 17 de novembro de 2013

A QUESTÃO DO APEGO ANALISADA A PARTIR DO AMOR, DA DEPENDÊNCIA E DA COMUNICAÇÃO NO PROCESSO DE LUTO

O LUTO É UM PROCESSO NATURAL DA VIDA E EM ALGUM MOMENTO DA EXISTÊNCIA DO SER HUMANO HAVERÁ UMA PERDA POR MORTE. PERDEREMOS ALGUÉM COM QUEM TÍNHAMOS UM VÍNCULO AFETIVO, LAÇOS AMOROSOS E MUITAS VEZES, UMA RELAÇÃO DE DEPENDÊNCIA TAMBÉM. A SOCIEDADE MODERNA, TECNOLÓGICA, ROBOTIZADA, ESTA CADA VEZ MAIS SE DISTANCIANDO DOS ASSUNTOS RELATIVOS À MORTE, POUCO SE FALA DELA, APESAR DA SUA PRESENÇA DIÁRIA NOS NOTICIÁRIOS E REDES SOCIAIS. POUCOS SE DETÉM PARA OUVIR E ACOLHER A HISTÓRIA DE MORTE DE SEU PRÓXIMO, SEJA ELE AMIGO, COLEGA OU PARENTE. POUCO FALAMOS SOBRE O ASSUNTO MORTE COM NOSSOS FILHOS, NOSSOS PARCEIROS, AS ESCOLAS TAMBÉM NÃO ABORDAM O TEMA MORTE COM AS CRIANÇAS E OS ADOLESCENTES. NO ENTANTO, É NECESSÁRIA UMA EDUCAÇÃO PARA A MORTE, É NECESSÁRIO QUE TROQUEMOS INFORMAÇÃO SOBRE ESSE EVENTO ENEVITÁVEL EM NOSSAS VIDAS, ENFIM, QUE HAJA COMUNICAÇÃO!


ZELDIN, HISTORIADOR INGLÊS, AFIRMA QUE O SER HUMANO ESTÁ NOS PRIMÓRDIOS DA COMUNICAÇÃO, APENAS NO LIMIAR DE ABANDONAR A ETIQUETA DESTRUTIVA, O FÚTIL JOGO DAS APARÊNCIAS (2011). E, PARA EDUCAR PARA A MORTE É PRECISO QUE O SER HUMANO RETIRE A CAPA DE IMORTAL QUE O AVANÇO DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA LHE IMPUTOU E AVANCE NA COMUNICAÇÃO, O QUE IMPLICA NA EDUCAÇÃO PARA O AMOR TAMBÉM.


NO PASSADO A COMUNICAÇÃO ERA CRIADA PARA DOMINAR OS OUTROS, E ERA USADA PARA, PRINCIPALMENTE, TRANSMITIR INFORMAÇÕES E SE DIZEREM COISAS QUE ERAM ESPERADAS PELAS PESSOAS. O SÉCULO XXI PRECISA DE UMA NOVA META: DESENVOLVER NÃO SIMPLESMENTE A ARTE DE FALAR, MAS A VERDADEIRA ARTE DE CONVERSAR, QUE, ESTA SIM, É CAPAZ DE DE MUDAR AS PESSOAS. ESTAMOS NOS PRIMEIROS ESTÁGIOS DA APRENDIZAGEM DE COMO SE FALAR COM O OUTRO. Estamos na infância da comunicação.,(ZELDIN, 2011).


NA COMUNICAÇÃO ABERTA, OUVIR O OUTRO É CONSTRUIR ALGO NOVO A PARTIR DE TROCAS E DE APRENDIZAGENS E O GRAU DE DEPENDÊNCIA ENTRE AS PESSOAS DIMINUI, POIS NÃO HÁ MEDO, NEM RESTRIÇÕES PARA SE EXTERNAR O VERDADEIRO SENTIMENTO. NESSE GRAU DE COMUNICAÇÃO ENCONTRAMOS SOLO FÉRTIL PARA A BOA CONVERSA SOBRE O FENÔMENO MORTE E, PARA CONSTRUIR ALGO NOVO NESSE CAMPO, FAZ-SE NECESSÁRIO VOLTAR PARA OS TEMPOS EM QUE AS CRIANÇAS PARTICIPAVAM DOS ÚLTIMOS MOMENTOS DA VIDA DE UM FAMILIAR E AS PESSOAS TRATAVAM ESSE PROCESSO COMO A ÚNICA VERDADE DA VIDA E, POR ISSO, HAVIA RESPEITO, ACOLHIMENTO E REFLEXÃO SOBRE A MORTE.


NESTE NOVO SÉCULO PRECISAMOS CRIAR UMA NOVA COMUNICAÇÃO, ONDE O AMOR POSSA DIRIGIR AS RELAÇÕES E ESTABELECER VÍNCULOS NÃO TÃO DEPENDENTES, QUE POSSIBILITEM RELAÇÕES MAIS SAUDÁVEIS.


LINS, R. N. A cama na varanda. 5a. ed. Rio de Janeiro: Bestseller, 2011.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013



"Uma vida não é senão um breve instante na eternidade, independente do quanto dura esse instante, é imprescindível que seja bem vivido, do contrário, a vida será um hiato, um vazio sem sentido" Odair José Comin

Continuando a reflexão sobre os determinantes do luto, hoje será explorada a questão do apego e os sentimentos em relação à pessoa que morreu. O sentimento de amor pode ser um determinante do processo de luto, no entanto, Parkes (1998),estudioso das perdas e do luto faz a seguinte pergunta: "O que é amor? o significado é impreciso" (p. 146). Gisella Haddad (2010) afirma que "não é fácil descrever como o amor está articulado com a felicidade, o bem-estar, o prazer, a plenitude, ou, ao contrário, com o sofrimento, a renúncia, a postergação e a eternidade, incluindo ainda o excessivo e o traumático" (p.09-10). Platão define assim esse sentimento:“O amor é uma força, uma energia, que se manifesta na alma como um sentimento de lembrança de algo que a alma já teve, mas perdeu.” Portanto, não é tarefa fácil estabelecer a relação entre amor e luto. Bowlby (1953) observou profundamente a questão do apego em crianças, elas estão sempre à procura da mãe, necessitam tê-la no seu campo visual para ter uma situação de conforto e segurança. Este mesmo estudioso afirma que "uma relação de amor bem estabelecida é aquela na qual a separação ou o afastamento podem ser bem tolerados, porque existe a confiança de que a pessoa amada voltará quando necessário" (Bowlby apud Parkes, 1998, p.146,147).O que pode ser definido como "segurança do apego" (Ainsworth e Wittig, apud Parkes 1998, p.146).


Dentro dessa linha de pensamento podemos incluir a questão da dependência que denota uma certa intolerância à separação e ainda significa a confiança em alguém que desempenha papéis ou funções específicas, portanto, estabelece-se uma relação de dependência, que no processo de luto pode determinar como será essa trajetória, que inclui a aceitação da separação e da nova realidade, ou seja, a ausência da pessoa com a qual havia um vínculo.


Há ainda o grau de envolvimento como determinante do luto.Parkes explica o envolvimento de maneira prática estabelecendo uma fórmula matemática que mostra como são construídas a rede de relações humanas: "quanto maior a área ocupada por A no espaço vital de B, maior será a ruptura resultante da partida de A" (Parkes,1998, 147).


Nessa tecitura emaranhada e colorida do apego, da dependência e do envolvimento que determinam as relações interpessoais e o processo de luto, é mistér estabelecer relações de interdependência que promovam maior autonomia sem minimizar o amor, pois ele transcende qualquer separação e precisa ser manifestado na sua plenitude de forma saudável e construtiva para que se possa seguir com novos projetos, investindo na vida e nas relações.
 
 
PARKES, C. M. Luto, estudos sobre a perda na vida adulta.São Paulo:Summus Editorial, 1998.

HADDAD, Gisela. Emoções - Amor.São Paulo: Dueto Editorial, 2010.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O QUE ENVOLVE UMA PERDA E O PROCESSO DE LUTO?



O processo do luto envolve vários fatores que determinam como será a caminhada da pessoa diante de uma mudança de vida decorrente da perda de alguém muito próximo. Parkes (1998), psiquiatra inglês, estudioso da área de perdas e luto afirma que há alguns fatores gerais que envolvem o processo de luto e estão inseridos na questão do apego. A relação com a pessoa que morreu, ou seja, o grau de parentesco (marido, mulher, filho, pai, mãe, etc.), a força do apego, a segurança do apego, grau de confiança, o envolvimento e a intensidade da ambivalência de sentimentos (amor e ódio) são alguns dos fatores elencados por Parkes (1998) como determinantes do processo de luto e que serão desenvolvidos nas postagens posteriores.


Não é possível medir, com uma medida única, o sofrimento alheio; não se pode julgar, nem tirar conclusões. Respeitar é não usar a minha medida para sentir o sofrimento do outro, mas usar a dele próprio. Uma experiência ou fato que, para mim, parece não ter valor, para o outro poderá ser motivo de grande angústia, de grande ansiedade e tristeza.”
Maria Helena Pereira Franco

Parkes, M. C. (1998).LUTO: ESTUDOS SOBRE A PERDA NA VIDA ADULTA

sexta-feira, 21 de junho de 2013

O Grupo Mandala tem como objetivo estabelecer uma rede de apoio para as situações de perda e de luto onde os integrantes possam trocar ideias e experiências de vida por meio da criação de mandalas.


Propósitos do Grupo Mandala:

- Trabalhar as perdas e o luto avançando para o reequilíbrio emocional, espiritual e físico;

- Recomeçar a caminhada da vida de forma plena;

- Ser acolhido e acolher pela troca de vivências individuais e grupais.


O grupo é conduzido pela psicóloga Dorita krieger com formação em Tanatologia (Perdas e Luto) e com o curso de Introdução ao Estudo do Luto e pela enfermeira Emanuelle Landi com formação em Tanatologia (Perdas e Luto), especialista em atendimento domiciliar 
(Home Care) e Gestão dos Serviços de Saúde e Enfermagem.

Os encontros acontecem mensalmente, toda primeira terça-feira do mês.
Próximo encontro: 02 de julho de 2013
Horário: das 18:30 às 20:00 horas
Rua Capitão Amaro Seixas Ribeiro, 70  - Santa Mônica - Florianópolis - SC
Demais encontros: 06 de agosto de 2013; 03 de setembro de 2013; 01 de outubro de 2013; 05 de novembro de 2013; 03 de dezembro de 2013.

Investimento: R$ 40,00 mensal por pessoa.

Contatos:

Dorita krieger (47) 99538593


Athos Cuidados Integrais (48)3733-6500                
email: contato@athoscare.com.br   e  enfermagem@athoscare.com.br. www.athoscare.com.br
 

quinta-feira, 6 de junho de 2013

AUSÊNCIA

Por muito tempo achei que a ausência é falta
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta sem ausência,
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a branca, tão pegada, aconchegada em meus braços,
Que rio e danço e invento exclamações alegres,
Porque a ausência, essa ausência assimilada, Ninguém a rouba mais de mim.



Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 24 de maio de 2013

A PERDA NA INFÂNCIA



A perda por morte de um ente querido na infância, principalmente de pais e parentes mais próximos, é um momento muito delicado na vida de qualquer criança e deve ser observado com cuidado e carinho por parte dos cuidadores e adultos com os quais a criança tem envolvimento afetivo.

Até os seis anos de idade a criança interpreta a sua realidade de acordo com seus pensamentos mágicos, fantasiando e construindo mundos paralelos próprios desta fase, onde não há propriamente uma distinção entre o mundo real e as fantasias dos contos de fadas e desenhos infantis. Portanto, o adulto ao comunicar a morte de alguém muito próximo da criança deve fazê-lo da maneira mais clara possível, sem tentar atenuar a possível dor gerada pela má notícia, porém mostrando-se afetivo e acolhedor. Contar que a pessoa querida virou uma estrelinha ou que a pessoa está morando em uma nuvem pode criar no imaginário desta criança a realidade fantasiosa de que pessoa morta realmente virou uma estrela ou que um dia irá voltar voando em uma bela nuvem!

Muitas vezes os adultos criam estas estorinhas a partir da sua dificuldade de lidar com a morte, querendo poupar a criança do sofrimento de perda.No entanto, quanto maior o diálogo claro e aberto do adulto com a criança, na medida de seu entendimento, explicando que a pessoa que morreu não pode mais manter contato, que ela não mais voltará porque seu corpo cessou de funcionar, que ela irá ser enterrada no cemitério e se ela quiser poderá acompanhar todo esse momento de despedida, tanto mais próxima da realidade estará essa criança e ela poderá lidar de forma natural e espontânea com as questões que envolvem morte e perda.

Para isso é necessário que os pais, cuidadores e demais adultos tenham claras e resolvidas, de alguma maneira, as questões que envolvem a morte.

domingo, 5 de maio de 2013

A Grande Tristeza


“...a grande tristeza havia pousado nos ombros de Mack como uma capa invisível, mas quase palpável. O peso daquela presença embotava seus olhos e curvava seus ombros. Até os esforços para afastá-la eram exaustivos, como se os braços estivessem costurados nas dobras escuras do desespero que agora, de algum modo, tinha se tornado parte dele. Comia, trabalhava, amava, sonhava e brincava sempre usando essa vestimenta, como se fosse um roupão de chumbo. Andava com dificuldade pela melancolia tenebrosa que sugava a cor de tudo”.  (A CABANA – William P. Young – Sextante, p. 208)

O texto acima descreve como era a vida de Mack após a morte de seu filho. O processo de luto pela perda de um filho é muito particular e envolve exaustivamente muito sofrimento se comparado às demais perdas significativas e se podermos escalonar o sofrimento.No entanto, a perda de um filho quebra o ciclo de vida que conhecemos como natural, ou seja, os pais deveriam morrer antes dos filhos e não ao contrário. Nessa situação de perda de um filho a culpa pode aparecer com muita intensidade. Os questionamentos como “se eu tivesse feito isso ou aquilo” são constantes e muitas vezes impedem que os pais ou cuidadores vivam o processo de luto.

O luto é a reação a uma perda significativa e se desencadeia por aquilo que se ama e já não se tem.

O processo de luto envolve a reorganização da vida e a construção de novos significados para a pessoa enlutada em relação a pessoa que morreu. No caso da perda de um filho esse processo pode ser lento e exaustivo. A Teoria do Apego de Bolwby (1980) está voltada às vicissitudes e alterações dos vínculos no caso de ameaça de separação, separações concretas, nas perdas e no luto. Bowlby sustenta que uma das fases do luto implica na pessoa que sofre a perda, chamar e buscar a pessoa perdida, tentar sem sucesso recuperar a figura perdida. Essa resistência em aceitar a realidade e tentar resgatar o filho morto faz parte do processo de luto e é explicado pelo apego a esta pessoa devido aos vínculos afetivos estabelecidos.

Na fase de busca da pessoa perdida pode haver as seguintes manifestações: movimentos inquietos e exploração do meio; pensar intensamente na pessoa que morreu; perceber a presença da pessoa que morreu; voltar sua atenção a lugares em que há possibilidade de encontrar a pessoa morta e chamar a pessoa que se foi. Portanto, essa fase da busca da pessoa perdida, sem sucesso, faz parte do processo de luto e envolve a questão do apego a essa pessoa e não poderia ser diferente, pois trata-se de um ser humano a quem se ama muito e no caso de um filho, envolve o cuidado, os planos e sonhos idealizados e até o aprendizado de vida e principalmente o sentimento de extensão de si mesmo no outro.

Infelizmente não há atalho para o processo do luto, é preciso passar por ele, é preciso viver a busca da pessoa perdida para saber que ela não voltará. É preciso reconhecer a dor da perda e tentar conviver com ela. Nos casos mais severos como na perda de um filho é possível que a pessoa necessite de um acompanhamento psicoterapêutico para conduzir de maneira mais saudável possível esse momento do luto e assim conseguir reorganizar sua vida.

O afeto, o amor pela filho jamais morrerão, é preciso ter consciência de que o ser biológico morre, mas os sentimentos podem ser ressignificados, ocupar outro espaço na vida de quem perdeu, pois a vida é um constante deixar ir, tudo muda, a vida é mudança. É preciso compreender e aceitar esta condição humana e tentar retirar a vestimenta pesada da culpa.

Textos de apoio: Jornal Actualidad Psicologica – Buenos Aires - Julho de 2012

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Espiritualidade - Morte e Vida Entrelaçados
 
 
Tudo em nossa vida está em constante transformação, nada é permanente – vivemos em um mundo dinâmico em continuada mudança. A natureza segue seu ciclo de nascer, crescer e morrer. As células em nosso corpo morrem e se renovam diariamente. Tudo se desfaz e se refaz na natureza – e o homem pertence à natureza, está integrado nela.

Diariamente somos convidados a refazer a nossa vida, diariamente passamos por mudanças e algumas envolvem perda – muitas vezes perdemos a hora e deixamos de estar em algum compromisso, perdemos o ônibus, o avião, perdemos algum objeto que talvez nos é caro ou imprescindível para o trabalho, perdemos também momentos com nossos familiares, nossos queridos porque estamos comprometidos com outras tarefas e responsabilidades – enfim – a vida sempre nos coloca diante de alguns exercícios de perda, procurando nos ensinar a refazer nossas vidas e nos apontando que existem perdas maiores.

Todos nós temos uma história de vida. Nossos sonhos realizados ou por realizar, nossos objetivos alcançados, valores, pensamentos, sentimentos dão significado a nossa vida e ficam registrados em nossas relações, nos laços afetivos.

Nossas vidas não apenas estão atadas as de outras pessoas, como são definidas em termos delas. Somos, acima de tudo, animais sociais, deixamos marcas e estas marcas permanecem no outro, não morrem, apesar da separação. A separação por morte não nos dá escolha – é definitiva – no entanto, podemos escolher a qualidade dessa experiência de separação, podemos torná-la uma afirmação ou uma negação da vida.

Um dos caminhos para afirmarmos a vida apesar da dor da separação é a espiritualidade – falo aqui não necessariamente daquela espiritualidade calcada no que está além, no que transcende, mas falo de uma espiritualidade construída no aqui e no agora, com o que a vida nos oferece. A espiritualidade como amor reflexivo à vida

A espiritualidade pode estar na música – a música que nos arrebata, e como escreveu o filósofo Shopenhauer – a música nos tira de nós mesmos, permite-nos escapar de nossos temores e desejos. Transporta-nos para um universo maior e nos coloca em comunhão entre nós e nossos companheiros ouvintes.

Podemos também buscar a espiritualidade na natureza. Talvez vejamos o mundo como criação de Deus ou como um mistério que a ciência quer entender, porém não há como negar a beleza e a majestade em tudo, nas cadeias de montanhas, nos desertos, nas florestas, nas flores, na imensidão do mar, no brilho das estrelas. A natureza também nos transporta para um universo maior, nos liberta dos medos e inseguranças e nos faz perceber que estamos todos interligados numa linda rede cósmica – assim, a natureza também nos leva a reafirmar a vida.

A amizade, o amor e a família também são elementos que nos colocam diante de um sentimento de espiritualidade.A amizade e a família, mesmo com suas dificuldades e restrições são locais de apoio, de enlevo, onde podemos ser levados no colo nos momentos de dor, mostrando que a essência da espiritualidade é o valor da vida – e vida é tanto insatisfação e sofrimento, quanto alegria e satisfações.

O amor refletindo o sentimento de bondade, pois quando nosso olhar para a vida é bom, nossos atos serão de bondade – e esta bondade deve ser aplicada primeiramente a nós mesmos – acolhendo com bondade o luto, a separação, para que assim esta bondade se irradie e transforme a dor em aprendizado que, com certeza, será benéfico a todos.

E o valor da vida se apresenta quando digo:

“quero viver por causa de minha riqueza em amigos. Quero viver porque amo. Quero viver porque estou mergulhado em meus projetos. Quero viver porque outros precisam de mim e porque me interesso pelos outros e me preocupo com eles. Quero viver mesmo sabendo que o luto é um estado de tristeza, de dor, pois sei que também é um momento de transformação, de reorganização, de confiança na vida. Confiança entendida como uma maneira de estar no mundo. Confiança como algo conquistado, cultivado, trabalhado. Confiança que envolve determinação e responsabilidade, apesar de tudo...pois sei que a vida se refaz constantemente e o que importa é viver e amar, apesar das perdas."


Material de apoio:

Espiritualidade para Céticos - Robert C. Solomon

Morte - estágio final da evolução - Elisabeth Kübler-Ross


quinta-feira, 28 de março de 2013


LUTO E DATAS COMEMORATIVAS




“O trabalho do luto é o processo de aprendizagem pelo qual cada mudança resultante é progressivamente compreendida (tornada real) e é estabelecido um novo conjunto de concepções sobre o mundo. Ninguém absorve de uma só vez a realidade de um evento tão importante como um luto”.   Collin Murray Parkes

 

São vários os fatores que determinam o tempo de duração e a intensidade do luto:
  •   O VÍNCULO QUE HAVIA COM A PESSOA FALECIDA;
  •   COMO A MORTE OCORREU;
  •    AS CARACTERÍSTICAS DE PERSONALIDADE DA PESSOA ENLUTADA;
  •   AS CRENÇAS E A FILOSOFIA DE VIDA;
  •   A REDE DE APOIO.
É importantíssimo para o bem-estar físico, psicológico e espiritual da pessoa que está passando pelo processo de luto a expressão do que está sentindo nesse período, que pode ser raiva, saudade, culpa, revolta, insegurança.  O choro pode ser um bom meio para aliviar a dor, pois é preciso que a pessoa enlutada se sinta autorizada a manifestar seu pesar, seu sofrimento diante de uma perda significativa. As habituais frases, como - isso vai passar, não chore, você precisa ser forte, ele ou ela não gostaria de te ver assim - querem transmitir algum consolo, mas nem sempre surtem esse efeito, pois a expressão da dor também é subjetiva, particular e deve ser respeitada.
É inevitável lembrar a pessoa querida que morreu nas datas comemorativas como natal, páscoa, aniversário, dia dos pais, etc. e é nesses momentos que se faz necessário maior apoio das pessoas mais próximas, dos amigos, dos grupos sociais e também dos grupos de apoio aos enlutados. Permitir a manifestação da saudade, da tristeza pela separação muitas vezes precoce e inesperada é totalmente aceitável no processo de vivência do luto e as datas comemorativas acentuam as emoções e aproximam o enlutado das lembranças e dos momentos vividos com a pessoa que morreu.
Para tanto é aconselhável respeitar o tempo do luto para que haja entendimento, resoluções internas e aceitação do ocorrido, pois é um período caracterizado por várias fases, que, vividas de maneira respeitosa e pacienciosa, pode resultar em aprendizados para a vida. Para isso é preciso ter consciência de que o tempo irá passar,porém o luto será vivido e o amor, o carinho e as lembranças permanecerão.
 

quinta-feira, 14 de março de 2013

Arteterapia

CURSO  DE  INTRODUÇÃO  À  ARTETERAPIA





A ARTE COMO MEIO DE EXPRESSÃO DO SER HUMANO

SER – SENTIR – EXPRESSAR

EVELINE CARRANO HENRIQUES PORTO

Psicóloga - Arteterapeuta e Arte Educadora do Rio de janeiro



O curso de introdução à arteterapia tem como objetivo proporcionar experiências vivenciais e teóricas sobre os princípios e fundamentos teóricos da arteterapia. É destinado aos profissionais da saúde (terapeutas ocupacionais, médicos, fonoaudiólogos) e profissionais graduados ou estudantes de Psicologia, Pedagogia, Artes Plásticas, Arte- Educadores, Psicopedagogia, e áreas afins.


Contato: dorakrieger@bol.com.br


Este curso terá um módulo voltado para perdas e luto tendo como ferramenta de trabalho a criação de mandalas - palavra que significa círculo em Sânscrito - "símbolo universal da integração e da harmonia. Criar um mandala pode ser comparado com uma prática meditativa, pois ajuda a organizar pensamentos, a apurar sentimentos, aumenta o poder de concentração e amplia a criatividade".

(Fonte: Revista Mente e Cérebro Ano XIX no. 231)









quinta-feira, 7 de março de 2013



O presente artigo está publicado no livro " A morte e suas implicações para a Vida" - lançado em dezembro de 2012 - organizado por Aroldo Escudeiro.

Para aquisição de exemplares entre em contato pelo e-mail dorita@percepto.org

ESPIRITUALIDADE NO CONTEXTO HOSPITALAR: UMA


ABORDAGEM MULTIPROFISSIONAL



[1]Dorita Krieger


Não há necessidade de temer a morte. Não é o fim do corpo físico que deveria preocupar-nos. Antes, nossa preocupação deveria ser a de viver, enquanto estamos vivos, para liberar nosso eu interior da morte espiritual que corresponde a vivermos por trás de uma fachada que se destina a conformar-nos a definições externas de quem e o que somos.


(Elisabeth Kübler-Ross)


RESUMO

Neste mundo excessivamente competitivo em que vivemos, com diversos conflitos de ordem social, religiosa e ética, o ser humano procura um sentido para a sua vida. A busca espiritual vem se tornando cada vez mais um caminho de descobertas, de significados para a existência humana na terra. Seguindo esse anseio por alguma razão para a vida além da matéria, faz-se cada vez mais necessário que o cuidado espiritual seja incluído também na rotina dos profissionais de saúde, principalmente no contexto hospitalar, dentro de uma abordagem multiprofissional que envolva enfermeiros, médicos, psicólogos e demais profissionais. Este artigo apresenta os movimentos realizados na área da saúde para alcançar um atendimento à pessoa hospitalizada que inclua o cuidado espiritual. Aponta estudos que evidenciam os benefícios da espiritualidade na qualidade de vida, tendo como base o paradigma holístico, em que o paciente é visto como um ser biopsicossocial e espiritual. Faz também uma distinção entre espiritualidade e religiosidade.


Palavras-chave: Espiritualidade. Religiosidade. Profissionais da Saúde. Hospital.


[1] Psicóloga, Professora, Formação em Tanatologia.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

REFLEXÕES

SANTA MARIA - LUTO INESPERADO – GRUPOS DE APOIO


A tragédia ocorrida em Santa Maria talvez seja o exemplo mais recente e mais contundente de perda ocorrida por morte súbita, que é aquela situação da vida onde a pessoa está presente, viva e imediatamente não está mais. É a morte que ocorre repentinamente, sem previsão. Apesar da extensa e incansável cobertura realizada logo após o ocorrido, a mídia na sua totalidade pouco fala atualmente da dor de Santa Maria. No entanto, a dor da perda permanece, ela existe vinte e quatro horas na vida das pessoas que perderam alguém que amavam – essa realidade não se apaga e mais do que isso, a dor necessita ser vivida, expressada e acolhida. Parkes (1998), psiquiatra inglês, especialista em luto,afirma que a dor do luto é parte da vida como é a alegria de viver e é talvez, o preço que pagamos pelo amor investido, o preço do compromisso.

Como não falar de alguém que amamos ou que teve importante papel em nossas vidas? Como não lembrar dos detalhes do convívio na rotina diária? Como não expressar a dor da falta? da ausência? Todo esse movimento da pessoa enlutada para lidar com a questão da morte e da perda é essencial para que aconteça a construção de significados e a reconstrução da vida (HABEKOSTE; AREOSA, 2011). Construção de significados em relação à pessoa que morreu e que ocupará outro lugar na vida da pessoa enlutada, tanto no âmbito intelectual, quanto no emocional e espiritual, para que assim, ela possa reconstruir sua vida.

O luto inesperado desencadeia sentimentos ambíguos, confusos que oscilam entre revolta e um certo entorpecimento diante de tamanha e irreversível realidade. Essa montanha russa de emoções leva ao estresse em uma escala elevada e a uma tristeza profunda. Aceitar a realidade da perda e adaptar-se à nova realidade exige uma demanda emocional e intelectual excessiva por parte dessas pessoas. Nesse período é essencial o apoio do grupo social (família, amigos e demais pessoas próximas) e dos grupos formais de apoio ao luto que são um importante suporte às pessoas que estão sofrendo a dor da perda.

Os grupos de apoio ao luto propiciam as trocas entre as pessoas que passaram por perdas similares ou em circunstâncias diversas. Essas trocas possibilitam a vivencia do luto com maior abertura, conforto e acolhimento. Esse espaço dos iguais autoriza a manifestação da dor, permite a pessoa ser acolhida e ao mesmo tempo a autoriza acolher o outro que também divide sua história de perda e de vida. Estudos apontam que as pessoas que buscaram os grupos de apoio e de suporte ao luto assim que sentiram necessidade, apresentaram melhor enfrentamento deste processo, diferentemente das que passaram pelo luto sem se valer dos grupos de apoio. Desse modo, a máxima que apresenta o tempo como cura para todos os males, não se aplica na totalidade dos casos de perdas significativas, pois olhar para nossas dores com carinho e disposição é essencial para uma vida plena, mesmo porque viver é preciso e amar é indispensável.


Dorita krieger – Psicóloga – Formação em Tanatologia – perdas e Luto


Referências:

HABESKOTE, C.M.; AREOSA, S.C. O Luto Inesperado. IV Jornada de Pesquisa em psicologia, Santa Cruz do Sul- RS, 2011.

PARKES, C. M. Luto: estudos sobre a perda na vida adulta. Sâo Paulo:Summus, 1998.