sexta-feira, 24 de maio de 2013

A PERDA NA INFÂNCIA



A perda por morte de um ente querido na infância, principalmente de pais e parentes mais próximos, é um momento muito delicado na vida de qualquer criança e deve ser observado com cuidado e carinho por parte dos cuidadores e adultos com os quais a criança tem envolvimento afetivo.

Até os seis anos de idade a criança interpreta a sua realidade de acordo com seus pensamentos mágicos, fantasiando e construindo mundos paralelos próprios desta fase, onde não há propriamente uma distinção entre o mundo real e as fantasias dos contos de fadas e desenhos infantis. Portanto, o adulto ao comunicar a morte de alguém muito próximo da criança deve fazê-lo da maneira mais clara possível, sem tentar atenuar a possível dor gerada pela má notícia, porém mostrando-se afetivo e acolhedor. Contar que a pessoa querida virou uma estrelinha ou que a pessoa está morando em uma nuvem pode criar no imaginário desta criança a realidade fantasiosa de que pessoa morta realmente virou uma estrela ou que um dia irá voltar voando em uma bela nuvem!

Muitas vezes os adultos criam estas estorinhas a partir da sua dificuldade de lidar com a morte, querendo poupar a criança do sofrimento de perda.No entanto, quanto maior o diálogo claro e aberto do adulto com a criança, na medida de seu entendimento, explicando que a pessoa que morreu não pode mais manter contato, que ela não mais voltará porque seu corpo cessou de funcionar, que ela irá ser enterrada no cemitério e se ela quiser poderá acompanhar todo esse momento de despedida, tanto mais próxima da realidade estará essa criança e ela poderá lidar de forma natural e espontânea com as questões que envolvem morte e perda.

Para isso é necessário que os pais, cuidadores e demais adultos tenham claras e resolvidas, de alguma maneira, as questões que envolvem a morte.

domingo, 5 de maio de 2013

A Grande Tristeza


“...a grande tristeza havia pousado nos ombros de Mack como uma capa invisível, mas quase palpável. O peso daquela presença embotava seus olhos e curvava seus ombros. Até os esforços para afastá-la eram exaustivos, como se os braços estivessem costurados nas dobras escuras do desespero que agora, de algum modo, tinha se tornado parte dele. Comia, trabalhava, amava, sonhava e brincava sempre usando essa vestimenta, como se fosse um roupão de chumbo. Andava com dificuldade pela melancolia tenebrosa que sugava a cor de tudo”.  (A CABANA – William P. Young – Sextante, p. 208)

O texto acima descreve como era a vida de Mack após a morte de seu filho. O processo de luto pela perda de um filho é muito particular e envolve exaustivamente muito sofrimento se comparado às demais perdas significativas e se podermos escalonar o sofrimento.No entanto, a perda de um filho quebra o ciclo de vida que conhecemos como natural, ou seja, os pais deveriam morrer antes dos filhos e não ao contrário. Nessa situação de perda de um filho a culpa pode aparecer com muita intensidade. Os questionamentos como “se eu tivesse feito isso ou aquilo” são constantes e muitas vezes impedem que os pais ou cuidadores vivam o processo de luto.

O luto é a reação a uma perda significativa e se desencadeia por aquilo que se ama e já não se tem.

O processo de luto envolve a reorganização da vida e a construção de novos significados para a pessoa enlutada em relação a pessoa que morreu. No caso da perda de um filho esse processo pode ser lento e exaustivo. A Teoria do Apego de Bolwby (1980) está voltada às vicissitudes e alterações dos vínculos no caso de ameaça de separação, separações concretas, nas perdas e no luto. Bowlby sustenta que uma das fases do luto implica na pessoa que sofre a perda, chamar e buscar a pessoa perdida, tentar sem sucesso recuperar a figura perdida. Essa resistência em aceitar a realidade e tentar resgatar o filho morto faz parte do processo de luto e é explicado pelo apego a esta pessoa devido aos vínculos afetivos estabelecidos.

Na fase de busca da pessoa perdida pode haver as seguintes manifestações: movimentos inquietos e exploração do meio; pensar intensamente na pessoa que morreu; perceber a presença da pessoa que morreu; voltar sua atenção a lugares em que há possibilidade de encontrar a pessoa morta e chamar a pessoa que se foi. Portanto, essa fase da busca da pessoa perdida, sem sucesso, faz parte do processo de luto e envolve a questão do apego a essa pessoa e não poderia ser diferente, pois trata-se de um ser humano a quem se ama muito e no caso de um filho, envolve o cuidado, os planos e sonhos idealizados e até o aprendizado de vida e principalmente o sentimento de extensão de si mesmo no outro.

Infelizmente não há atalho para o processo do luto, é preciso passar por ele, é preciso viver a busca da pessoa perdida para saber que ela não voltará. É preciso reconhecer a dor da perda e tentar conviver com ela. Nos casos mais severos como na perda de um filho é possível que a pessoa necessite de um acompanhamento psicoterapêutico para conduzir de maneira mais saudável possível esse momento do luto e assim conseguir reorganizar sua vida.

O afeto, o amor pela filho jamais morrerão, é preciso ter consciência de que o ser biológico morre, mas os sentimentos podem ser ressignificados, ocupar outro espaço na vida de quem perdeu, pois a vida é um constante deixar ir, tudo muda, a vida é mudança. É preciso compreender e aceitar esta condição humana e tentar retirar a vestimenta pesada da culpa.

Textos de apoio: Jornal Actualidad Psicologica – Buenos Aires - Julho de 2012