terça-feira, 14 de outubro de 2014



As Tarefas do Luto - Elaborar a Dor da Perda








"Se é necessário para a pessoa enlutada passar pela dor do luto para que este se resolva, então pode-se esperar que qualquer coisa que continuamente permita que a pessoa evita ou suprima esta dor, vá prolongar o tempo do luto" (Parkes, 1972, p.173)


Esta tarefa do luto consiste em viver a dor da ausência da pessoa querida que morreu. A dor causada pela perda é subjetiva, particular, pertence a cada pessoa, sentimos e vivenciamos a dor de diferentes maneiras e em conformidade com nossa história de perdas e o grau da relação com a pessoa que morreu.

Infelizmente nossa sociedade não entende o processo de morte como algo natural e inerente ao ser humano, muitas vezes a dor e sua manifestação são rechaçadas, a dor é interpretada como um sentimento de autopiedade por parte de quem está sofrendo.

A negação desta etapa do luto é não sentir, são evitados pensamentos dolorosos. Situações que colocam a pessoa diante da realidade da perda também são evitadas. Algumas pessoas que têm dificuldade em acolher sua dor tentam encontrar uma cura geográfica, elas viajam de um local para outro para encontrar algum alívio de suas emoções, sem êxito.

Caso essa tarefa não seja adequadamente vivida, certamente haverá necessidade em elaborar a dor da perda da pessoa querida em terapia, um processo bem mais delicado e complexo que exige muito comprometimento da pessoa que busca a terapia, pois muitas vezes esse quadro de embotamento da dor pode evoluir para a depressão.

Viver o período de luto na sua plenitude, sem medo, sem  receio da cobrança por melhoras imediatas, impostas pela sociedade e ter o apoio das relações familiares e dos amigos mais próximos é essencial para elaborar a dor da perda!

segunda-feira, 21 de julho de 2014





TAREFAS DO LUTO
 
Aceitar a realidade da Perda
 
(Complicações desta tarefa devido à negação)
 
 
 
 
 
 
Aceitar a perda por morte de um ente querido é uma tarefa de desapego, que envolve resiliência, paciência e tolerância. Primeiramente da pessoa enlutada para com ela mesma e para com o fato da morte ocorrida. O oposto de aceitar a realidade da perda é não acreditar e assim entrar num processo de negação. Algumas pessoas paralisam na primeira tarefa do luto, pois se recusam a acreditar que a morte é real. A negação da perda pode ocorrer em muitos níveis e tomar várias formas, frequentemente acontece a negação dos fatos e o significado da perda no que diz respeito a sua irreversibilidade (Dorpat, 1973).
 
A Negação dos Fatos: Pode se apresentar como uma leve distorção, até uma desilusão completa. Há parceiros que mantém intactos os pertences de seu companheiro ou companheira após a sua morte; pais que perdem seu filho e que deixam o quarto deste filho como estava antes da sua morte são exemplos de negação se o ato de preservar objetos e ambientes se estender por anos.
 
 
Negar o Significado da Perda: Nesse caso a morte pode ser vista como tendo menos significado do que tem na realidade. As expressões mais comuns são: ele não era um bom pai, nós não éramos próximos, ou eu não sinto sua falta. Remover tudo o que lembra ou liga à pessoa morta é o oposto ao apego excessivo visto na negação dos fatos. É como se os que sobrevivem protegessem a si mesmos pela ausência de qualquer objeto ou circunstância que poderia coloca-lo face a face com a realidade da perda. Nesse caso podemos concluir que nem o apego excessivo e tão pouco a indiferença extrema são escolhas funcionais para o processo de luto.
 
Esquecimento Seletivo: Há pessoas que bloqueiam toda e qualquer imagem da pessoa morta em sua mente, no entanto sentem a presença da pessoa querida que morreu, muitas vezes anos depois e em momentos especiais como formatura, casamento, etc.
 
Negação de que a Morte é Irreversível: Algumas pessoas têm dificuldade em aceitar que a morte é irreversível, muitas vezes entram num processo de regressão à infância, onde até os seis anos de idade aproximadamente, as pessoas morrem e depois voltam a viver como nos desenhos animados. Há casos onde a pessoa fica repetindo para si frases diárias, como: eu não quero que vocês morram. Em terapia será necessário trabalhar a questão da pessoa encarar o fato de que as pessoas morrem e não voltam mais.
 
 
A negação e o Espiritualismo: O desejo de se reunir à pessoa falecida é um sentimento normal, principalmente nos primeiros dias e semanas após a perda, no entanto, o desejo permanente desta reunião não é normal. Parkes (1972) afirma que o espiritualismo ajuda o enlutados na sua busca da pessoa falecida (fase do luto), porém poucas permanecem como frequentadoras regulares desses encontros.
 
Sempre buscamos meios para lidar com a dor da perda, mas nem sempre fazemos a melhor escolha. Na fase de luto é importante que os familiares se apoiem mutuamente, que os amigos e demais vínculos sociais tenham paciência e possam de alguma maneira apoiar e acolher a pessoa que está enlutada. Legitimar esse processo é autorizar-se sentir dor, saudade e tristeza profunda nesse período, é caminhar de maneira natural e em sintonia com seu corpo, mente, espírito e com as tarefas do luto. No período de negação que se estende por muito tempo, isso não é possível  e indica-se a orientação em psicoterapia.
 
 
"Depois de tantas buscas, encontros, desencontros, acho que a minha mais sincera intenção é me sentir confortável, o máximo que eu puder, estando na minha própria pele. É me sentir confortável, mesmo acessando, vez ou outra, lugares da memória que eu adoraria inacessíveis, tristezas que não cicatrizaram, padrões que eu ainda não soube transformar, embora continue me empenhando para conseguir".
Ana Jácomo
 
 
Fonte: Introdução ao Estudo de Luto
 
 
 

 

sexta-feira, 4 de julho de 2014

 
 
 
AS TAREFAS DO LUTO
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A morte e a perda sempre requerem um investimento de energia que transcende os limites psicológicos e físicos da nossa rotina diária. À semelhança de um ferimento ou queimadura que causa um trauma fisiológico, a perda de uma pessoa querida também causa um trauma psicológico,(Engel,1961). Como o processo de cura de um ferimento físico requer cuidados contínuos, o processo de luto também solicita cuidados e até aprendizados para essa nova e dura realidade. Muitas vezes essa forma de entender e caminhar na vida, encontra algumas dificuldades e o processo do luto fica comprometido, havendo a necessidade de uma atenção maior com participação de profissionais como psicólogo e psiquiatra. Por isso viver o luto é necessário e implica em realizar algumas tarefas para que o resultado dessa caminhada seja funcional, equilibrado. Viver o luto de forma plena e benéfica resulta em: Tarefa 1- ACEITAR A REALIDADE DA PERDA; Tarefa 2- ELABORAR A DOR DA PERDA; Tarefa 3- AJUSTAR-SE A UM AMBIENTE ONDE ESTÁ FALTANDO A PESSOA QUE FALECEU; Tarefa 4- REPOSICIONAR EM TERMOS EMOCIONAIS A PESSOA QUE FALECEU E CONTINUAR A VIDA. A ordem das tarefas necessariamente não obedece a sequencia apresentada, no entanto é primordial que o primeiro movimento no processo de luto seja a aceitação da realidade da perda para que se promova efetivamente a aprendizagem de viver com a ausência da pessoa que morreu e com a nova realidade. Hoje será apresentada neste blog a primeira tarefa:
 
ACEITAR A REALIDADE DA PERDA
 
Aceitar a realidade da perda leva tempo, pois envolve a aceitação intelectual e emocional. A pessoa enlutada pode estar intelectualmente consciente da finalidade da perda muito antes que as emoções permitam total aceitação da informação como verdadeira. A realidade da morte, mesmo no caso da morte esperada, está sempre envolta pela sensação de que ela não aconteceu. A primeira tarefa do luto consiste em enfrentar a realidade de que a pessoa está morta, de que a pessoa se foi e não irá voltar. Parte da aceitação da realidade é acreditar que o reencontro é impossível, pelo menos nessa vida. O desapego está diretamente ligado a esta primeira tarefa, as pessoas nessa fase tendem a chamar pela pessoa que morreu, confundi-la com outras pessoas e faz com que processem a realidade da perda e percebam que a pessoa querida morreu e não pode estar naquele ambiente. Estar no limiar da realidade e da fantasia faz parte deste momento de aceitação da realidade. Krupp et al.,1986, esclarece que há momentos em que a pessoa de luto está sob a influência da realidade e aceita que a pessoa que morreu se foi, no entanto, em outras ocasiões ela se comporta de forma irracional, fantasiando um possível reencontro. Ocorre um padrão de comportamento e de emoções, há a raiva pela ausência da pessoa amada, a raiva do próprio self, talvez por se encontrar nessa difícil situação de perda, a raiva pelos causadores da perda e até a raiva por aqueles que acolhem a pessoa enlutada e que a relembram da realidade da perda. Esta primeira tarefa leva tempo para ser completada e devido à subjetividade do processo de luto, não há um tempo estabelecido, porém os rituais como o velório auxiliam muitas pessoas a entrarem no processo de aceitação. Os sobreviventes que não conseguem passar pelo cerimonial de despedida da pessoa querida que morreu, podem necessitar de outros meios para validar a realidade da morte. A aceitação da ausência ganha um espaço confortável a partir do momento que conseguimos introjetar a perda e dar um novo significado a ela. Isso só é possível com a vivência paciente e amorosa do luto.
 
Na próxima postagem falarei da negação da realidade e suas complicações.
 

quinta-feira, 12 de junho de 2014


Toda maneira de amor vale a pena– Eros,  Philos e Ágape
 
Antes de ser uma virtude, o amor é a evidência de que  somos seres solitários e de que precisamos sempre buscar algo além de que somos. É quando aprendemos a rir de nós mesmos e de nossos sonhos demasiado altos que o amor deixa de ser um impulso e começa a se tornar uma forma de sabedoria.   José Francisco Botelho

 

Botelho no seu texto que fala sobre amor, coloca que nas retóricas dos filósofos Platão, Sócrates e Aristófanes, “Eros, a personificação do amor, constantemente ilude Logos, o espírito da inteligência humana” (2014, p.22). A morte (Tânatos), o tempo e o amor (Eros), são temas difíceis de abordar sem “gaguejar”, pois são “vastos, complexos e onipresentes” (2014, p.22).

Eros, o amor romântico, apaixonado, é ele que muitas vezes nos move em direção à concretização de objetivos, sonhos a realizar! É um sentimento “ao mesmo tempo brutal e sublime” (2014, p.22). Botelho afirma que “Eros é um instinto básico, (...); talvez seja a única cura para a ferida original da humanidade, mas é também a evidência permanente de nossa imperfeição e de nossa insuficiência. E, embora muitas vezes louco, é também um caminho para a prudência” (2014, p.22) e para o autoconhecimento, pois como afirma Platão, Eros também  propicia o conhecimento da beleza da alma e contribui para a compreensão da verdade espiritual. Talvez esteja aqui a resposta ao enigma em relação a natureza ambígua do amor Eros – louco e prudente – uma vez que a impetuosidade do amor também leva à reflexões sobre a existência humana.

Como seres incompletos, faltantes, vamos em busca das paixões.Muitas vezes a paixão está ligada a posse da criatura amada e ao conquistar essa paixão possessiva, diminui a curiosidade em relação a este objeto e vai-se em busca de nova paixão, um novo objeto de desejo e uma nova angústia. São as paixões efêmeras, básicas, primitivas que sempre lançam o ser humano em direção ao novo toda vez que alcançam seu intento de conquista. É o sentimento fugaz, doído, sofrido. “A paixão – às vezes incômoda, às vezes deliciosa, às vezes cega, às vezes translúcida – é um daqueles fatos da vida” (2014, p.23). E seguindo o sentimento de incompletude das metades que procuram seu par, Eros deseja transformar dois seres em um.

O amor Philos é um tipo de amor global, amor entre a família, entre amigos, um desejo por uma atividade ou o desejo dos amantes. Para Botelho o amor Philia remete ao bom humor. “O amor se torna sábio quando aprende a rir diante de seus sonhos demasiado altos, de suas confusões e até de seus sucessos. E os amantes (...) sabem que o maior dos amores sempre tem algo de comédia”  (Lewis, citado por Botelho, 2014, p.23). Nessa forma de olhar o amor, não há a busca da completude de dois seres que intentam se fundir, mas a convivência prazerosa com a diversidade, com a diferença, o compartilhar, a troca de ideias, partilhar alegrias e tristezas. Segundo Botelho, Philia “não é apenas o afeto tranquilo entre dois amigos; é também o amor dos amantes que se conhecem , que se saciam, que riem de suas próprias loucuras e que partilham, além do prazer, a memória. Não é a negação total do egoísmo, mas uma espécie de egoísmo sadio, maduro” (2014, p.24). Nessa concepção há o encontro amoroso de dois seres que dividem suas incompletudes e necessidades, procurando aprender e crescer um com o outro.

Há ainda o amor denominado como amor ao mundo – ágape – também significando benevolência ou sentimento de humanidade. É o amor que permanece confiante em meio a toda dificuldade, angústias e fragilidades. É o amor prudente, paciente, gentil. Não é ciumento nem invejoso. Ele sempre confia, ele sempre persiste jamais acabará, (BOTELHO, 2014). É o sentimento que move a humanidade, que é expresso nas ações mais altruístas e faz com que o mundo se sinta interligado, conectado em algo maior, num movimento de empatia.

Atualmente percebe-se que a amizade é uma modalidade de relacionamento extremamente saudável e menos revestida dos apegos das relações amorosas tradicionais e “o prazer da companhia é tão importante quanto o que existe nas relações chamadas amorosas” (GIKOVATE, 2014). Este psiquiatra afirma que há mais respeito e menos dependência entre amigos. O sentimento de confiança e a cumplicidade podem ser maiores do que nas relações amorosas construídas sob os parâmetros convencionais, tradicionais. Gikovate (2014) salienta que “a amizade é um tipo de aliança muito mais sofisticada porque não busca a fusão e sim a aproximação de duas criaturas que tenham importantes afinidades e interesses em comum”. É a intenção de um amor adulto, autêntico.

O amor é dinâmico, renovador e nos convida sempre para o autoconhecimento! Assim, toda maneira de amor vale a pena!

Fonte: toda maneira de amor vale a pena!

 Revista Vida Simples, junho, 2014

http://flaviogikovate.com.br/amizade-e-mais-do-que-amor/

 

domingo, 8 de junho de 2014



O medo da intimidade
 
As pessoas cada vez mais estão com dificuldade em estabelecer relações de intimidade.  Os homens têm uma trajetória histórica quanto a esta dificuldade em se expor afetivamente e isso se reflete no comportamento atual. Historicamente na Roma Antiga, os romanos assumiram o comportamento de ter prudência, cautela ou reservas em manter uma relação de intimidade com as mulheres, evitando assim o sofrimento do amor. Ao perceber que estava fragilizado pela paixão ou sentisse que estava se envolvendo com a mulher com quem se relacionava o homem romano a desqualificava, ou seja, potencializava suas dificuldades ou defeitos. Para se proteger das emoções ele evidenciava os traços frágeis dessa mulher ao invés de admirá-la ou reforçar suas virtudes.
A cultural patriarcal demarcou papéis específicos na sociedade para homens e mulheres. Os homens se envolvendo com a preservação do seu território, cuidando de assuntos relativos à guerra, política, mundo das ideias e a mulher lidando com o mundo “menos importante” – o dos sentimentos. Portanto, nossos comportamentos atuais são afetados pelas condutas dos antepassados. Os homens do século XXI apresentam muitos traços, heranças dos antepassados, que o impedem de viver relações mais íntimas e mais completas.
As pessoas inseguras têm a tendência de associar intimidade como algo que as coloque em vulnerabilidade e por esse motivo sentem que a intimidade as coloca em perigo. O medo nos coloca em posição de alerta e de fuga, portanto se mostrar plenamente ao outro incita o homem a se colocar em situação de defesa diante do que o ameaça. Há o receio de ficar desprotegido na intimidade e de perder a identidade.
Se mostrar inteiramente, exibindo  suas virtudes e dificuldades, pode significar se colocar em posição de risco pessoal. O psicólogo Willy Pasini afirma que a intimidade exige o abandono da couraça que protege o que temos de mais íntimo: quanto mais intimidade é compartilhada, mais o outro tem livre trânsito aos nossos aspectos mais secretos e apenas uma autoestima equilibrada possibilita viver tal “despir-se” como oportunidade e não como “ameaça”.
Despir-se afetivamente consiste em ter a oportunidade de amadurecimento emocional e relacional, desenvolver sua autonomia, sua individualidade sem o receio de perder sua identidade e de perceber suas sensações, suas emoções e se sentir mais confiante nas relações e consigo mesmo.
Muitos conseguem ter intimidade sexual, mas não amorosa. Amar é expor-se, enfrentar riscos, caso contrário a relação fica no nível da superficialidade.  Ter intimidade significa ir além das fronteiras estabelecidas pelas defesas construídas ao longo de uma existência ou aprendidas nas relações familiares e por influencia da herança histórica. Porém, se mostrar revela autoestima equilibrada, confiança em si e acima de tudo querer crescer como ser humano, sentindo-se afetivamente bem, sem medo da intimidade.
Fonte pesquisada: Regina Navarro Lins – blogosfera.uol.com.br
 
 
 


 
                        



 

                        

quinta-feira, 1 de maio de 2014




DESAPEGO







"Viver é conviver com o medo da finitude não só do ponto de vista da vida biológica, mas de tudo o que construímos - obras, vínculos, sonhos, memórias - projetos que por mais sólidos que sejam, estão sempre expostos ao perigo da dissolução" Graziela Costa Pinto e Christian I. L. Dunker



Viver implica em ter a consciência da transitoriedade e da impermanência da pessoas, das coisas, dos projetos, enfim, da vida! Por mais que busquemos as certezas e constâncias, que também são necessárias para uma existência em harmonia, a dinamicidade da vida sempre nos convida para o novo, para mudanças. Viver com a certeza da finitude, da morte física não é um exercício simples, desperta emoções como o medo e nos leva à ansiedade, pois nos lança para o futuro que é desconhecido.  No entanto a consciência da finitude nos mostra que o essencial da vida é valorizar o momento presente, os projetos do aqui e agora, que certamente desenharão o devir! Nessa cadência de entender a vida como em constante mudança, que implica em aceitar a própria morte e a dos que fazem parte do nosso mundo afetivo e social, encontramos o desapego. Entender o desapego significa saber que há o apego e que este é essencialmente necessário para a nossa sobrevivência como seres humanos, gregários, afetivos e que estabelecem vínculos. "Se o apego é imprescindível, o desapego também é. Não se trata de quantidade, mas de qualidade" Ana Maria Gomez (2012). 
Gomez (2012) também aponta que a separação, a ausência que se se entende como "viável, positiva", é aquela que acontece progressivamente, acompanhada do simbólico, da introjeção simbólica da figura da pessoa morta, que permite a desvinculação do ser-amar-estar, para dar lugar a outras modalidades de amor e de vínculos. No processo de luto que envolve o apego e o desapego, há vários estágios que resultam em uma reorganização afetiva e cognitiva de nossas vidas. Viver esse tempo do luto significa viver a ausência de quem amamos e que envolve dor, porém esse período também pode ser de reflexão sobre o ser-amar-estar e permitir o vislumbre de novas maneiras de amar e de seguir caminhando, seguir vivendo de maneira plena, favorecendo-se das vicissitudes da vida.
 
Ana María Gomez .Anatomía del dolor y fundamentos del desapego, (2012)
Graziela Costa Pinto; Christian I. L. Dunker ,Medo, (2010)
 

quinta-feira, 27 de março de 2014


Perdas e Tragédias: a vida sempre nos convida a superação!

 
 
 
 
 
 
 
No luto, é o mundo que se torna pobre e vazio; na melancolia, é o próprio ego que se torna vazio
 
 

 
 A vida de quem passou por uma tragédia, principalmente na perda por morte, faz com que num primeiro momento  a pessoa se depare com a realidade irreversível de não ter mais a pessoa amada no seu convívio diário, causando dor intensa, pedindo amparo, acolhimento e dedicação dos que fazem parte da sua rede social, para que possa dar conta dessa intensa mudança. A dor de não mais ter aquele ser que talvez desse um sentido para a existência, fazendo parte do projeto de vida da pessoa em luto, bem como a perda  da figura simbólica paterna, ou a perda do afago maternal que nos embala até a vida adulta, também podem ser denominadas de perdas significativas e trágicas, pois nos convidam a dar outra cor para a nossa vida e pedem que nos apropriemos da realidade da ausência. Freud (1917) diz que um tanto de introspecção e melancolia nos ajuda com o processo de aceitação da realidade e vivência do luto. Assim, no luto é o mundo que se torna pobre e vazio, pedindo esse tempo necessário para que possamos entender e aceitar o fato acontecido e continuar caminhando. Fatores bioquímicos, genéticos e comportamentais agem para restabelecer o indivíduo, após o choque da má notícia, restaurar seu equilíbrio emocional, físico e espiritual. Dentro desse contexto de dar um outro significado à pessoa que morreu é importante falar da capacidade de resiliência do ser humano diante de fatos severos e imensamente dolorosos. Resiliência, se comparado ao aço que se deforma sob forte pressão e depois retorna ao estado inicial, significa "a capacidade de, após um forte golpe emocional, a pessoa retomar a própria vida, sem grandes alterações, dentro de um breve período" (STIX, 2013). Sabe-se que o processo de luto é subjetivo, que temos toda uma história de vida que não pode ser dissociada da dor da perda, mas é importante também saber que o ser humano tem a capacidade de retomar sua vida, de dar um lugar à perda no que se refere as emoções e sentimentos. Para isso é necessário aprendermos a redesenhar a vida, confiar na nossa capacidade de resiliência e ter em mente que nada na natureza se perde, tudo se transforma e saber que caminhar é necessário e a superação é um elemento essencial da vida.
 
FREUD, S. Luto e melancolia, 1917.
STIX, G. A neurociência da superação, in: Revista Mentecérebro, setembro, 2013.