quinta-feira, 12 de junho de 2014


Toda maneira de amor vale a pena– Eros,  Philos e Ágape
 
Antes de ser uma virtude, o amor é a evidência de que  somos seres solitários e de que precisamos sempre buscar algo além de que somos. É quando aprendemos a rir de nós mesmos e de nossos sonhos demasiado altos que o amor deixa de ser um impulso e começa a se tornar uma forma de sabedoria.   José Francisco Botelho

 

Botelho no seu texto que fala sobre amor, coloca que nas retóricas dos filósofos Platão, Sócrates e Aristófanes, “Eros, a personificação do amor, constantemente ilude Logos, o espírito da inteligência humana” (2014, p.22). A morte (Tânatos), o tempo e o amor (Eros), são temas difíceis de abordar sem “gaguejar”, pois são “vastos, complexos e onipresentes” (2014, p.22).

Eros, o amor romântico, apaixonado, é ele que muitas vezes nos move em direção à concretização de objetivos, sonhos a realizar! É um sentimento “ao mesmo tempo brutal e sublime” (2014, p.22). Botelho afirma que “Eros é um instinto básico, (...); talvez seja a única cura para a ferida original da humanidade, mas é também a evidência permanente de nossa imperfeição e de nossa insuficiência. E, embora muitas vezes louco, é também um caminho para a prudência” (2014, p.22) e para o autoconhecimento, pois como afirma Platão, Eros também  propicia o conhecimento da beleza da alma e contribui para a compreensão da verdade espiritual. Talvez esteja aqui a resposta ao enigma em relação a natureza ambígua do amor Eros – louco e prudente – uma vez que a impetuosidade do amor também leva à reflexões sobre a existência humana.

Como seres incompletos, faltantes, vamos em busca das paixões.Muitas vezes a paixão está ligada a posse da criatura amada e ao conquistar essa paixão possessiva, diminui a curiosidade em relação a este objeto e vai-se em busca de nova paixão, um novo objeto de desejo e uma nova angústia. São as paixões efêmeras, básicas, primitivas que sempre lançam o ser humano em direção ao novo toda vez que alcançam seu intento de conquista. É o sentimento fugaz, doído, sofrido. “A paixão – às vezes incômoda, às vezes deliciosa, às vezes cega, às vezes translúcida – é um daqueles fatos da vida” (2014, p.23). E seguindo o sentimento de incompletude das metades que procuram seu par, Eros deseja transformar dois seres em um.

O amor Philos é um tipo de amor global, amor entre a família, entre amigos, um desejo por uma atividade ou o desejo dos amantes. Para Botelho o amor Philia remete ao bom humor. “O amor se torna sábio quando aprende a rir diante de seus sonhos demasiado altos, de suas confusões e até de seus sucessos. E os amantes (...) sabem que o maior dos amores sempre tem algo de comédia”  (Lewis, citado por Botelho, 2014, p.23). Nessa forma de olhar o amor, não há a busca da completude de dois seres que intentam se fundir, mas a convivência prazerosa com a diversidade, com a diferença, o compartilhar, a troca de ideias, partilhar alegrias e tristezas. Segundo Botelho, Philia “não é apenas o afeto tranquilo entre dois amigos; é também o amor dos amantes que se conhecem , que se saciam, que riem de suas próprias loucuras e que partilham, além do prazer, a memória. Não é a negação total do egoísmo, mas uma espécie de egoísmo sadio, maduro” (2014, p.24). Nessa concepção há o encontro amoroso de dois seres que dividem suas incompletudes e necessidades, procurando aprender e crescer um com o outro.

Há ainda o amor denominado como amor ao mundo – ágape – também significando benevolência ou sentimento de humanidade. É o amor que permanece confiante em meio a toda dificuldade, angústias e fragilidades. É o amor prudente, paciente, gentil. Não é ciumento nem invejoso. Ele sempre confia, ele sempre persiste jamais acabará, (BOTELHO, 2014). É o sentimento que move a humanidade, que é expresso nas ações mais altruístas e faz com que o mundo se sinta interligado, conectado em algo maior, num movimento de empatia.

Atualmente percebe-se que a amizade é uma modalidade de relacionamento extremamente saudável e menos revestida dos apegos das relações amorosas tradicionais e “o prazer da companhia é tão importante quanto o que existe nas relações chamadas amorosas” (GIKOVATE, 2014). Este psiquiatra afirma que há mais respeito e menos dependência entre amigos. O sentimento de confiança e a cumplicidade podem ser maiores do que nas relações amorosas construídas sob os parâmetros convencionais, tradicionais. Gikovate (2014) salienta que “a amizade é um tipo de aliança muito mais sofisticada porque não busca a fusão e sim a aproximação de duas criaturas que tenham importantes afinidades e interesses em comum”. É a intenção de um amor adulto, autêntico.

O amor é dinâmico, renovador e nos convida sempre para o autoconhecimento! Assim, toda maneira de amor vale a pena!

Fonte: toda maneira de amor vale a pena!

 Revista Vida Simples, junho, 2014

http://flaviogikovate.com.br/amizade-e-mais-do-que-amor/

 

domingo, 8 de junho de 2014



O medo da intimidade
 
As pessoas cada vez mais estão com dificuldade em estabelecer relações de intimidade.  Os homens têm uma trajetória histórica quanto a esta dificuldade em se expor afetivamente e isso se reflete no comportamento atual. Historicamente na Roma Antiga, os romanos assumiram o comportamento de ter prudência, cautela ou reservas em manter uma relação de intimidade com as mulheres, evitando assim o sofrimento do amor. Ao perceber que estava fragilizado pela paixão ou sentisse que estava se envolvendo com a mulher com quem se relacionava o homem romano a desqualificava, ou seja, potencializava suas dificuldades ou defeitos. Para se proteger das emoções ele evidenciava os traços frágeis dessa mulher ao invés de admirá-la ou reforçar suas virtudes.
A cultural patriarcal demarcou papéis específicos na sociedade para homens e mulheres. Os homens se envolvendo com a preservação do seu território, cuidando de assuntos relativos à guerra, política, mundo das ideias e a mulher lidando com o mundo “menos importante” – o dos sentimentos. Portanto, nossos comportamentos atuais são afetados pelas condutas dos antepassados. Os homens do século XXI apresentam muitos traços, heranças dos antepassados, que o impedem de viver relações mais íntimas e mais completas.
As pessoas inseguras têm a tendência de associar intimidade como algo que as coloque em vulnerabilidade e por esse motivo sentem que a intimidade as coloca em perigo. O medo nos coloca em posição de alerta e de fuga, portanto se mostrar plenamente ao outro incita o homem a se colocar em situação de defesa diante do que o ameaça. Há o receio de ficar desprotegido na intimidade e de perder a identidade.
Se mostrar inteiramente, exibindo  suas virtudes e dificuldades, pode significar se colocar em posição de risco pessoal. O psicólogo Willy Pasini afirma que a intimidade exige o abandono da couraça que protege o que temos de mais íntimo: quanto mais intimidade é compartilhada, mais o outro tem livre trânsito aos nossos aspectos mais secretos e apenas uma autoestima equilibrada possibilita viver tal “despir-se” como oportunidade e não como “ameaça”.
Despir-se afetivamente consiste em ter a oportunidade de amadurecimento emocional e relacional, desenvolver sua autonomia, sua individualidade sem o receio de perder sua identidade e de perceber suas sensações, suas emoções e se sentir mais confiante nas relações e consigo mesmo.
Muitos conseguem ter intimidade sexual, mas não amorosa. Amar é expor-se, enfrentar riscos, caso contrário a relação fica no nível da superficialidade.  Ter intimidade significa ir além das fronteiras estabelecidas pelas defesas construídas ao longo de uma existência ou aprendidas nas relações familiares e por influencia da herança histórica. Porém, se mostrar revela autoestima equilibrada, confiança em si e acima de tudo querer crescer como ser humano, sentindo-se afetivamente bem, sem medo da intimidade.
Fonte pesquisada: Regina Navarro Lins – blogosfera.uol.com.br