segunda-feira, 21 de julho de 2014





TAREFAS DO LUTO
 
Aceitar a realidade da Perda
 
(Complicações desta tarefa devido à negação)
 
 
 
 
 
 
Aceitar a perda por morte de um ente querido é uma tarefa de desapego, que envolve resiliência, paciência e tolerância. Primeiramente da pessoa enlutada para com ela mesma e para com o fato da morte ocorrida. O oposto de aceitar a realidade da perda é não acreditar e assim entrar num processo de negação. Algumas pessoas paralisam na primeira tarefa do luto, pois se recusam a acreditar que a morte é real. A negação da perda pode ocorrer em muitos níveis e tomar várias formas, frequentemente acontece a negação dos fatos e o significado da perda no que diz respeito a sua irreversibilidade (Dorpat, 1973).
 
A Negação dos Fatos: Pode se apresentar como uma leve distorção, até uma desilusão completa. Há parceiros que mantém intactos os pertences de seu companheiro ou companheira após a sua morte; pais que perdem seu filho e que deixam o quarto deste filho como estava antes da sua morte são exemplos de negação se o ato de preservar objetos e ambientes se estender por anos.
 
 
Negar o Significado da Perda: Nesse caso a morte pode ser vista como tendo menos significado do que tem na realidade. As expressões mais comuns são: ele não era um bom pai, nós não éramos próximos, ou eu não sinto sua falta. Remover tudo o que lembra ou liga à pessoa morta é o oposto ao apego excessivo visto na negação dos fatos. É como se os que sobrevivem protegessem a si mesmos pela ausência de qualquer objeto ou circunstância que poderia coloca-lo face a face com a realidade da perda. Nesse caso podemos concluir que nem o apego excessivo e tão pouco a indiferença extrema são escolhas funcionais para o processo de luto.
 
Esquecimento Seletivo: Há pessoas que bloqueiam toda e qualquer imagem da pessoa morta em sua mente, no entanto sentem a presença da pessoa querida que morreu, muitas vezes anos depois e em momentos especiais como formatura, casamento, etc.
 
Negação de que a Morte é Irreversível: Algumas pessoas têm dificuldade em aceitar que a morte é irreversível, muitas vezes entram num processo de regressão à infância, onde até os seis anos de idade aproximadamente, as pessoas morrem e depois voltam a viver como nos desenhos animados. Há casos onde a pessoa fica repetindo para si frases diárias, como: eu não quero que vocês morram. Em terapia será necessário trabalhar a questão da pessoa encarar o fato de que as pessoas morrem e não voltam mais.
 
 
A negação e o Espiritualismo: O desejo de se reunir à pessoa falecida é um sentimento normal, principalmente nos primeiros dias e semanas após a perda, no entanto, o desejo permanente desta reunião não é normal. Parkes (1972) afirma que o espiritualismo ajuda o enlutados na sua busca da pessoa falecida (fase do luto), porém poucas permanecem como frequentadoras regulares desses encontros.
 
Sempre buscamos meios para lidar com a dor da perda, mas nem sempre fazemos a melhor escolha. Na fase de luto é importante que os familiares se apoiem mutuamente, que os amigos e demais vínculos sociais tenham paciência e possam de alguma maneira apoiar e acolher a pessoa que está enlutada. Legitimar esse processo é autorizar-se sentir dor, saudade e tristeza profunda nesse período, é caminhar de maneira natural e em sintonia com seu corpo, mente, espírito e com as tarefas do luto. No período de negação que se estende por muito tempo, isso não é possível  e indica-se a orientação em psicoterapia.
 
 
"Depois de tantas buscas, encontros, desencontros, acho que a minha mais sincera intenção é me sentir confortável, o máximo que eu puder, estando na minha própria pele. É me sentir confortável, mesmo acessando, vez ou outra, lugares da memória que eu adoraria inacessíveis, tristezas que não cicatrizaram, padrões que eu ainda não soube transformar, embora continue me empenhando para conseguir".
Ana Jácomo
 
 
Fonte: Introdução ao Estudo de Luto
 
 
 

 

sexta-feira, 4 de julho de 2014

 
 
 
AS TAREFAS DO LUTO
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A morte e a perda sempre requerem um investimento de energia que transcende os limites psicológicos e físicos da nossa rotina diária. À semelhança de um ferimento ou queimadura que causa um trauma fisiológico, a perda de uma pessoa querida também causa um trauma psicológico,(Engel,1961). Como o processo de cura de um ferimento físico requer cuidados contínuos, o processo de luto também solicita cuidados e até aprendizados para essa nova e dura realidade. Muitas vezes essa forma de entender e caminhar na vida, encontra algumas dificuldades e o processo do luto fica comprometido, havendo a necessidade de uma atenção maior com participação de profissionais como psicólogo e psiquiatra. Por isso viver o luto é necessário e implica em realizar algumas tarefas para que o resultado dessa caminhada seja funcional, equilibrado. Viver o luto de forma plena e benéfica resulta em: Tarefa 1- ACEITAR A REALIDADE DA PERDA; Tarefa 2- ELABORAR A DOR DA PERDA; Tarefa 3- AJUSTAR-SE A UM AMBIENTE ONDE ESTÁ FALTANDO A PESSOA QUE FALECEU; Tarefa 4- REPOSICIONAR EM TERMOS EMOCIONAIS A PESSOA QUE FALECEU E CONTINUAR A VIDA. A ordem das tarefas necessariamente não obedece a sequencia apresentada, no entanto é primordial que o primeiro movimento no processo de luto seja a aceitação da realidade da perda para que se promova efetivamente a aprendizagem de viver com a ausência da pessoa que morreu e com a nova realidade. Hoje será apresentada neste blog a primeira tarefa:
 
ACEITAR A REALIDADE DA PERDA
 
Aceitar a realidade da perda leva tempo, pois envolve a aceitação intelectual e emocional. A pessoa enlutada pode estar intelectualmente consciente da finalidade da perda muito antes que as emoções permitam total aceitação da informação como verdadeira. A realidade da morte, mesmo no caso da morte esperada, está sempre envolta pela sensação de que ela não aconteceu. A primeira tarefa do luto consiste em enfrentar a realidade de que a pessoa está morta, de que a pessoa se foi e não irá voltar. Parte da aceitação da realidade é acreditar que o reencontro é impossível, pelo menos nessa vida. O desapego está diretamente ligado a esta primeira tarefa, as pessoas nessa fase tendem a chamar pela pessoa que morreu, confundi-la com outras pessoas e faz com que processem a realidade da perda e percebam que a pessoa querida morreu e não pode estar naquele ambiente. Estar no limiar da realidade e da fantasia faz parte deste momento de aceitação da realidade. Krupp et al.,1986, esclarece que há momentos em que a pessoa de luto está sob a influência da realidade e aceita que a pessoa que morreu se foi, no entanto, em outras ocasiões ela se comporta de forma irracional, fantasiando um possível reencontro. Ocorre um padrão de comportamento e de emoções, há a raiva pela ausência da pessoa amada, a raiva do próprio self, talvez por se encontrar nessa difícil situação de perda, a raiva pelos causadores da perda e até a raiva por aqueles que acolhem a pessoa enlutada e que a relembram da realidade da perda. Esta primeira tarefa leva tempo para ser completada e devido à subjetividade do processo de luto, não há um tempo estabelecido, porém os rituais como o velório auxiliam muitas pessoas a entrarem no processo de aceitação. Os sobreviventes que não conseguem passar pelo cerimonial de despedida da pessoa querida que morreu, podem necessitar de outros meios para validar a realidade da morte. A aceitação da ausência ganha um espaço confortável a partir do momento que conseguimos introjetar a perda e dar um novo significado a ela. Isso só é possível com a vivência paciente e amorosa do luto.
 
Na próxima postagem falarei da negação da realidade e suas complicações.