sexta-feira, 4 de julho de 2014

 
 
 
AS TAREFAS DO LUTO
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A morte e a perda sempre requerem um investimento de energia que transcende os limites psicológicos e físicos da nossa rotina diária. À semelhança de um ferimento ou queimadura que causa um trauma fisiológico, a perda de uma pessoa querida também causa um trauma psicológico,(Engel,1961). Como o processo de cura de um ferimento físico requer cuidados contínuos, o processo de luto também solicita cuidados e até aprendizados para essa nova e dura realidade. Muitas vezes essa forma de entender e caminhar na vida, encontra algumas dificuldades e o processo do luto fica comprometido, havendo a necessidade de uma atenção maior com participação de profissionais como psicólogo e psiquiatra. Por isso viver o luto é necessário e implica em realizar algumas tarefas para que o resultado dessa caminhada seja funcional, equilibrado. Viver o luto de forma plena e benéfica resulta em: Tarefa 1- ACEITAR A REALIDADE DA PERDA; Tarefa 2- ELABORAR A DOR DA PERDA; Tarefa 3- AJUSTAR-SE A UM AMBIENTE ONDE ESTÁ FALTANDO A PESSOA QUE FALECEU; Tarefa 4- REPOSICIONAR EM TERMOS EMOCIONAIS A PESSOA QUE FALECEU E CONTINUAR A VIDA. A ordem das tarefas necessariamente não obedece a sequencia apresentada, no entanto é primordial que o primeiro movimento no processo de luto seja a aceitação da realidade da perda para que se promova efetivamente a aprendizagem de viver com a ausência da pessoa que morreu e com a nova realidade. Hoje será apresentada neste blog a primeira tarefa:
 
ACEITAR A REALIDADE DA PERDA
 
Aceitar a realidade da perda leva tempo, pois envolve a aceitação intelectual e emocional. A pessoa enlutada pode estar intelectualmente consciente da finalidade da perda muito antes que as emoções permitam total aceitação da informação como verdadeira. A realidade da morte, mesmo no caso da morte esperada, está sempre envolta pela sensação de que ela não aconteceu. A primeira tarefa do luto consiste em enfrentar a realidade de que a pessoa está morta, de que a pessoa se foi e não irá voltar. Parte da aceitação da realidade é acreditar que o reencontro é impossível, pelo menos nessa vida. O desapego está diretamente ligado a esta primeira tarefa, as pessoas nessa fase tendem a chamar pela pessoa que morreu, confundi-la com outras pessoas e faz com que processem a realidade da perda e percebam que a pessoa querida morreu e não pode estar naquele ambiente. Estar no limiar da realidade e da fantasia faz parte deste momento de aceitação da realidade. Krupp et al.,1986, esclarece que há momentos em que a pessoa de luto está sob a influência da realidade e aceita que a pessoa que morreu se foi, no entanto, em outras ocasiões ela se comporta de forma irracional, fantasiando um possível reencontro. Ocorre um padrão de comportamento e de emoções, há a raiva pela ausência da pessoa amada, a raiva do próprio self, talvez por se encontrar nessa difícil situação de perda, a raiva pelos causadores da perda e até a raiva por aqueles que acolhem a pessoa enlutada e que a relembram da realidade da perda. Esta primeira tarefa leva tempo para ser completada e devido à subjetividade do processo de luto, não há um tempo estabelecido, porém os rituais como o velório auxiliam muitas pessoas a entrarem no processo de aceitação. Os sobreviventes que não conseguem passar pelo cerimonial de despedida da pessoa querida que morreu, podem necessitar de outros meios para validar a realidade da morte. A aceitação da ausência ganha um espaço confortável a partir do momento que conseguimos introjetar a perda e dar um novo significado a ela. Isso só é possível com a vivência paciente e amorosa do luto.
 
Na próxima postagem falarei da negação da realidade e suas complicações.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário