quinta-feira, 1 de maio de 2014




DESAPEGO







"Viver é conviver com o medo da finitude não só do ponto de vista da vida biológica, mas de tudo o que construímos - obras, vínculos, sonhos, memórias - projetos que por mais sólidos que sejam, estão sempre expostos ao perigo da dissolução" Graziela Costa Pinto e Christian I. L. Dunker



Viver implica em ter a consciência da transitoriedade e da impermanência da pessoas, das coisas, dos projetos, enfim, da vida! Por mais que busquemos as certezas e constâncias, que também são necessárias para uma existência em harmonia, a dinamicidade da vida sempre nos convida para o novo, para mudanças. Viver com a certeza da finitude, da morte física não é um exercício simples, desperta emoções como o medo e nos leva à ansiedade, pois nos lança para o futuro que é desconhecido.  No entanto a consciência da finitude nos mostra que o essencial da vida é valorizar o momento presente, os projetos do aqui e agora, que certamente desenharão o devir! Nessa cadência de entender a vida como em constante mudança, que implica em aceitar a própria morte e a dos que fazem parte do nosso mundo afetivo e social, encontramos o desapego. Entender o desapego significa saber que há o apego e que este é essencialmente necessário para a nossa sobrevivência como seres humanos, gregários, afetivos e que estabelecem vínculos. "Se o apego é imprescindível, o desapego também é. Não se trata de quantidade, mas de qualidade" Ana Maria Gomez (2012). 
Gomez (2012) também aponta que a separação, a ausência que se se entende como "viável, positiva", é aquela que acontece progressivamente, acompanhada do simbólico, da introjeção simbólica da figura da pessoa morta, que permite a desvinculação do ser-amar-estar, para dar lugar a outras modalidades de amor e de vínculos. No processo de luto que envolve o apego e o desapego, há vários estágios que resultam em uma reorganização afetiva e cognitiva de nossas vidas. Viver esse tempo do luto significa viver a ausência de quem amamos e que envolve dor, porém esse período também pode ser de reflexão sobre o ser-amar-estar e permitir o vislumbre de novas maneiras de amar e de seguir caminhando, seguir vivendo de maneira plena, favorecendo-se das vicissitudes da vida.
 
Ana María Gomez .Anatomía del dolor y fundamentos del desapego, (2012)
Graziela Costa Pinto; Christian I. L. Dunker ,Medo, (2010)
 

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