quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

REFLEXÕES

SANTA MARIA - LUTO INESPERADO – GRUPOS DE APOIO


A tragédia ocorrida em Santa Maria talvez seja o exemplo mais recente e mais contundente de perda ocorrida por morte súbita, que é aquela situação da vida onde a pessoa está presente, viva e imediatamente não está mais. É a morte que ocorre repentinamente, sem previsão. Apesar da extensa e incansável cobertura realizada logo após o ocorrido, a mídia na sua totalidade pouco fala atualmente da dor de Santa Maria. No entanto, a dor da perda permanece, ela existe vinte e quatro horas na vida das pessoas que perderam alguém que amavam – essa realidade não se apaga e mais do que isso, a dor necessita ser vivida, expressada e acolhida. Parkes (1998), psiquiatra inglês, especialista em luto,afirma que a dor do luto é parte da vida como é a alegria de viver e é talvez, o preço que pagamos pelo amor investido, o preço do compromisso.

Como não falar de alguém que amamos ou que teve importante papel em nossas vidas? Como não lembrar dos detalhes do convívio na rotina diária? Como não expressar a dor da falta? da ausência? Todo esse movimento da pessoa enlutada para lidar com a questão da morte e da perda é essencial para que aconteça a construção de significados e a reconstrução da vida (HABEKOSTE; AREOSA, 2011). Construção de significados em relação à pessoa que morreu e que ocupará outro lugar na vida da pessoa enlutada, tanto no âmbito intelectual, quanto no emocional e espiritual, para que assim, ela possa reconstruir sua vida.

O luto inesperado desencadeia sentimentos ambíguos, confusos que oscilam entre revolta e um certo entorpecimento diante de tamanha e irreversível realidade. Essa montanha russa de emoções leva ao estresse em uma escala elevada e a uma tristeza profunda. Aceitar a realidade da perda e adaptar-se à nova realidade exige uma demanda emocional e intelectual excessiva por parte dessas pessoas. Nesse período é essencial o apoio do grupo social (família, amigos e demais pessoas próximas) e dos grupos formais de apoio ao luto que são um importante suporte às pessoas que estão sofrendo a dor da perda.

Os grupos de apoio ao luto propiciam as trocas entre as pessoas que passaram por perdas similares ou em circunstâncias diversas. Essas trocas possibilitam a vivencia do luto com maior abertura, conforto e acolhimento. Esse espaço dos iguais autoriza a manifestação da dor, permite a pessoa ser acolhida e ao mesmo tempo a autoriza acolher o outro que também divide sua história de perda e de vida. Estudos apontam que as pessoas que buscaram os grupos de apoio e de suporte ao luto assim que sentiram necessidade, apresentaram melhor enfrentamento deste processo, diferentemente das que passaram pelo luto sem se valer dos grupos de apoio. Desse modo, a máxima que apresenta o tempo como cura para todos os males, não se aplica na totalidade dos casos de perdas significativas, pois olhar para nossas dores com carinho e disposição é essencial para uma vida plena, mesmo porque viver é preciso e amar é indispensável.


Dorita krieger – Psicóloga – Formação em Tanatologia – perdas e Luto


Referências:

HABESKOTE, C.M.; AREOSA, S.C. O Luto Inesperado. IV Jornada de Pesquisa em psicologia, Santa Cruz do Sul- RS, 2011.

PARKES, C. M. Luto: estudos sobre a perda na vida adulta. Sâo Paulo:Summus, 1998.

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