quinta-feira, 11 de abril de 2013

Espiritualidade - Morte e Vida Entrelaçados
 
 
Tudo em nossa vida está em constante transformação, nada é permanente – vivemos em um mundo dinâmico em continuada mudança. A natureza segue seu ciclo de nascer, crescer e morrer. As células em nosso corpo morrem e se renovam diariamente. Tudo se desfaz e se refaz na natureza – e o homem pertence à natureza, está integrado nela.

Diariamente somos convidados a refazer a nossa vida, diariamente passamos por mudanças e algumas envolvem perda – muitas vezes perdemos a hora e deixamos de estar em algum compromisso, perdemos o ônibus, o avião, perdemos algum objeto que talvez nos é caro ou imprescindível para o trabalho, perdemos também momentos com nossos familiares, nossos queridos porque estamos comprometidos com outras tarefas e responsabilidades – enfim – a vida sempre nos coloca diante de alguns exercícios de perda, procurando nos ensinar a refazer nossas vidas e nos apontando que existem perdas maiores.

Todos nós temos uma história de vida. Nossos sonhos realizados ou por realizar, nossos objetivos alcançados, valores, pensamentos, sentimentos dão significado a nossa vida e ficam registrados em nossas relações, nos laços afetivos.

Nossas vidas não apenas estão atadas as de outras pessoas, como são definidas em termos delas. Somos, acima de tudo, animais sociais, deixamos marcas e estas marcas permanecem no outro, não morrem, apesar da separação. A separação por morte não nos dá escolha – é definitiva – no entanto, podemos escolher a qualidade dessa experiência de separação, podemos torná-la uma afirmação ou uma negação da vida.

Um dos caminhos para afirmarmos a vida apesar da dor da separação é a espiritualidade – falo aqui não necessariamente daquela espiritualidade calcada no que está além, no que transcende, mas falo de uma espiritualidade construída no aqui e no agora, com o que a vida nos oferece. A espiritualidade como amor reflexivo à vida

A espiritualidade pode estar na música – a música que nos arrebata, e como escreveu o filósofo Shopenhauer – a música nos tira de nós mesmos, permite-nos escapar de nossos temores e desejos. Transporta-nos para um universo maior e nos coloca em comunhão entre nós e nossos companheiros ouvintes.

Podemos também buscar a espiritualidade na natureza. Talvez vejamos o mundo como criação de Deus ou como um mistério que a ciência quer entender, porém não há como negar a beleza e a majestade em tudo, nas cadeias de montanhas, nos desertos, nas florestas, nas flores, na imensidão do mar, no brilho das estrelas. A natureza também nos transporta para um universo maior, nos liberta dos medos e inseguranças e nos faz perceber que estamos todos interligados numa linda rede cósmica – assim, a natureza também nos leva a reafirmar a vida.

A amizade, o amor e a família também são elementos que nos colocam diante de um sentimento de espiritualidade.A amizade e a família, mesmo com suas dificuldades e restrições são locais de apoio, de enlevo, onde podemos ser levados no colo nos momentos de dor, mostrando que a essência da espiritualidade é o valor da vida – e vida é tanto insatisfação e sofrimento, quanto alegria e satisfações.

O amor refletindo o sentimento de bondade, pois quando nosso olhar para a vida é bom, nossos atos serão de bondade – e esta bondade deve ser aplicada primeiramente a nós mesmos – acolhendo com bondade o luto, a separação, para que assim esta bondade se irradie e transforme a dor em aprendizado que, com certeza, será benéfico a todos.

E o valor da vida se apresenta quando digo:

“quero viver por causa de minha riqueza em amigos. Quero viver porque amo. Quero viver porque estou mergulhado em meus projetos. Quero viver porque outros precisam de mim e porque me interesso pelos outros e me preocupo com eles. Quero viver mesmo sabendo que o luto é um estado de tristeza, de dor, pois sei que também é um momento de transformação, de reorganização, de confiança na vida. Confiança entendida como uma maneira de estar no mundo. Confiança como algo conquistado, cultivado, trabalhado. Confiança que envolve determinação e responsabilidade, apesar de tudo...pois sei que a vida se refaz constantemente e o que importa é viver e amar, apesar das perdas."


Material de apoio:

Espiritualidade para Céticos - Robert C. Solomon

Morte - estágio final da evolução - Elisabeth Kübler-Ross


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