sexta-feira, 11 de outubro de 2013



"Uma vida não é senão um breve instante na eternidade, independente do quanto dura esse instante, é imprescindível que seja bem vivido, do contrário, a vida será um hiato, um vazio sem sentido" Odair José Comin

Continuando a reflexão sobre os determinantes do luto, hoje será explorada a questão do apego e os sentimentos em relação à pessoa que morreu. O sentimento de amor pode ser um determinante do processo de luto, no entanto, Parkes (1998),estudioso das perdas e do luto faz a seguinte pergunta: "O que é amor? o significado é impreciso" (p. 146). Gisella Haddad (2010) afirma que "não é fácil descrever como o amor está articulado com a felicidade, o bem-estar, o prazer, a plenitude, ou, ao contrário, com o sofrimento, a renúncia, a postergação e a eternidade, incluindo ainda o excessivo e o traumático" (p.09-10). Platão define assim esse sentimento:“O amor é uma força, uma energia, que se manifesta na alma como um sentimento de lembrança de algo que a alma já teve, mas perdeu.” Portanto, não é tarefa fácil estabelecer a relação entre amor e luto. Bowlby (1953) observou profundamente a questão do apego em crianças, elas estão sempre à procura da mãe, necessitam tê-la no seu campo visual para ter uma situação de conforto e segurança. Este mesmo estudioso afirma que "uma relação de amor bem estabelecida é aquela na qual a separação ou o afastamento podem ser bem tolerados, porque existe a confiança de que a pessoa amada voltará quando necessário" (Bowlby apud Parkes, 1998, p.146,147).O que pode ser definido como "segurança do apego" (Ainsworth e Wittig, apud Parkes 1998, p.146).


Dentro dessa linha de pensamento podemos incluir a questão da dependência que denota uma certa intolerância à separação e ainda significa a confiança em alguém que desempenha papéis ou funções específicas, portanto, estabelece-se uma relação de dependência, que no processo de luto pode determinar como será essa trajetória, que inclui a aceitação da separação e da nova realidade, ou seja, a ausência da pessoa com a qual havia um vínculo.


Há ainda o grau de envolvimento como determinante do luto.Parkes explica o envolvimento de maneira prática estabelecendo uma fórmula matemática que mostra como são construídas a rede de relações humanas: "quanto maior a área ocupada por A no espaço vital de B, maior será a ruptura resultante da partida de A" (Parkes,1998, 147).


Nessa tecitura emaranhada e colorida do apego, da dependência e do envolvimento que determinam as relações interpessoais e o processo de luto, é mistér estabelecer relações de interdependência que promovam maior autonomia sem minimizar o amor, pois ele transcende qualquer separação e precisa ser manifestado na sua plenitude de forma saudável e construtiva para que se possa seguir com novos projetos, investindo na vida e nas relações.
 
 
PARKES, C. M. Luto, estudos sobre a perda na vida adulta.São Paulo:Summus Editorial, 1998.

HADDAD, Gisela. Emoções - Amor.São Paulo: Dueto Editorial, 2010.

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