quarta-feira, 21 de janeiro de 2015




As Tarefas do Luto - Ajustar-se a um Ambiente onde está Faltando a pessoa que Morreu








"Dê-se a permissão para estar triste e infeliz, para chorar, para estar deprimido por um tempo. Esqueça as proibições de chorar, de sentir-se abatido. Busque as pessoas sábias que possam entender sua situação. Com o apoio necessário, se você expressar seus sentimentos íntimos, estará começando a superar sua tristeza"Jean Monbourquette



A terceira tarefa do luto consiste em aprender a viver sem a presença da pessoa que partiu e principalmente, desempenhar papéis que eram destinados a esta pessoa. Esta adaptação à nova realidade reque ajustes a um novo ambiente e está diretamente ligada ao tipo de relação vivida com esta pessoa, quer seja, marido, filha, amiga, etc. 
Muitas pessoas que ficam, os sobreviventes, se ressentem do fato de terem que desenvolver novas tarefas e de desempenhar papéis que antes eram realizados por quem partiu. Redefinir a perda, assumindo tarefas e papéis que eram da pessoa que morreu, atribuindo a essa mudança um possível benefício para a pessoa que ficou, indica a execução completa da terceira tarefa do luto, mas nem sempre isso é possível, pois o momento do luto nos coloca diante de nossas fragilidades e as vulnerabilidades veem à superfície nesse período.
Portanto, o luto pode levar a uma intensa regressão na qual a pessoa enlutada percebe a si mesma como desamparada, inadequada, incapaz, infantil ou com crise de personalidade (Horowitz et al.,1908) e as tentativas de assumir os papéis da pessoa que morreu podem não acontecer de forma efetiva, desencadeando o sentimento de baixa autoestima.Nesse período a pessoa atribui este sentimento de inadequação à má sorte ou ao destino, menosprezando a sua própria força e habilidade (Goalder, 1985). No entanto, com o caminhar diário, revestido de muita paciência e perseverança, as imagens negativas cedem lugar a outras mais positivas, assim é possível o aprendizado de novas formas de lidar com o mundo (Shuchter & Zisook, 1986).
Nesse processo de ajustar-se ao ambiente a pessoa enlutada pode sentir que perdeu a direção na vida e até a perda da identidade, como no caso dos relacionamentos em que se perde o sentimento de individualidade. Nesses casos, a perda por morte pode desafiar os valores fundamentais da vida, bem como as crenças que são influenciadas por nossos familiares, iguais, pela educação, pela religião e envolve as experiências de vida. Nos casos de mortes súbitas ou precoces, a pessoa que ficou procura significados na perda, sua vida muda para dar sentido a esta perda e para obter o controle de sua vida. Nessa fase do luto há um confronto direto com inúmeras perguntas a respeito da morte do ente querido e, muitas vezes, tem que se aprender a viver sem as respostas.
O principal entrave desta tarefa é não se adaptar à perda. As pessoas trabalham contra elas mesmas promovendo seu próprio desamparo ao não desenvolverem habilidades das quais necessitam, muitas se retiram do mundo e não enfrentam as exigências do ambiente. Bowlby (1980, p.139) afirma que, "dependendo da forma como ela completa esta tarefa, influenciará o resultado do seu luto, tanto num progresso em direção ao reconhecimento da modificação das circunstâncias, uma revisão de seus modelos de representação e uma redefinição de seus objetivos na vida, ou ainda um estado de crescimento suspenso, no qual ele é mantido prisioneiro de um dilema que ele não consegue solucionar".
Esta tarefa do luto é crucial na vida do enlutado, coloca-o diante de questionamentos e de enfrentamentos diários, levando à revisão de valores e convidando a mudanças pessoais, às vezes bem profundas, exigidas pelo ambiente e pela nova realidade posta.Podemos denominar esta fase como de transição, onde o desapego se faz necessário e a descoberta de um novo lugar para pessoa que morreu em nossas vidas,se mostra no horizonte.

Fonte: Introdução ao Estudo do Luto

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